Infelizmente, faz-se uso aqui da técnica pouco honesta de edição indevida do texto, dele extirpando justamente partes essenciais para sua adequada interpretação. O cardeal Ratzinger faz uma crítica valiosa nesse trecho, em sua versão completa (não aquela indevidamente editada e aqui apresentada para passar uma falsa impressão).
O referido cardeal não está a criticar a reforma litúrgica levada a cabo pela Comissão Litúrgica devidamente designada pela Santa Sé para esse fim, mas sim o modo como ela foi aplicada concretamente por muitos sacerdotes ao redor do mundo (modo esse não querido nem por São Paulo VI nem pelos membros da Comissão Litúrgica). Uma aplicação concreta por vezes desrespeitosa do espírito da liturgia, firmada em “invencionices” fabricadas e de gosto duvidoso, com a promoção de Missas “show” fabricadas artificialmente à imagem e semelhança daqueles que realizam abusos litúrgicos contra o Missal aprovado por São Paulo VI.
A leitura integral do texto deixa claro que a crítica do cardeal é a essa fabricação realizada por qualquer sacerdote na paróquia da esquina, e não à reforma feita de forma oficial pela Santa Sé. Por isso o cardeal fala em “a reforma litúrgica, na sua realização concreta”. E que realização concreta é essa? Justamente aquela que ele explica no trecho seguinte, indevidamente cortado: a liturgia show, em que o padre vira um “showmaster espiritual”
Além disso, o cardeal expressamente ressalva que corretamente agem “os sacerdotes e seus paroquianos que celebram a nova liturgia com solenidade”, a demonstrar que a fabricação atacada por ele não é a liturgia nova, e sim quem celebra o novo Missal sem a solenidade devida, com abusos litúrgicos. Para se ter claro que é disso de que o cardeal fala, é necessário ler o trecho todo de seu artigo.
Trecho esse cujo conhecimento, em sua íntegra, foi sonegado aos leitores, com a edição feita que suprimiu partes importantes. O leitor, não especializado em teologia, nem versado em alemão (língua original da publicação), não tem condições de procurar o original para perceber a verdadeira falsificação que se fez do pensamento de Ratzinger, fazendo o pobre cardeal colocar-se contra a reforma litúrgica, coisa que ele definitivamente não fez nesse texto acadêmico.
Segue abaixo o trecho relevante, em sua integra, em língua portuguesa, para se perceber o real pensamento do cardeal: