Eu costumo comentar sobre coisas depois que ninguém mais se importa com elas. O pequeno texto abaixo é referente àquela treta litúrgica a respeito da autoridade ou falta de autoridade que teria o Papa para mudar o que quisesse em matéria de rito.
Nos últimos três meses estudei com cuidado as obras principais de liturgistas célebres como o pe. Adrian Fortescue, pe. Louis Duchesne e V. Staley, e a impressão que tive foi que o Papa São Gregório Magno fez mais do aparenta e foi mais inovador do que costumeiramente se pensa.
O estalo aconteceu enquanto lia a carta de São Gregório a João de Siracusa, através da qual o santo papa defende-se das acusações feitas por João de ter copiado a Igreja de Constantinopla ao introduzir várias mudanças na Missa Romana. A conclusão é óbvia: se as inovações tivessem sido “graduais” não teriam motivado uma carta. Se fossem falsas, São Gregório teria aludido a isso. Contudo, Gregório se priva a dizer que as inovações não são iguais às práticas similares dos locais acusados por João, mas são ou ligeiramente dessemelhantes ou resgates de costumes romanos originais perdidos com o tempo; e em nenhum lugar Gregório nega tê-las introduzido ele mesmo.
A base para dizer que São Gregório não fez muita coisa de substancial, e assim traçar as origens da “Missa de Sempre” a um ponto anterior ao fim do século VI e evoluindo sempre em constante progressão orgânica, permanece sendo a defesa feita pelo seu Diácono, também chamado de João, onde lê-se que o Papa Gregório “adicionou umas palavras aqui, removeu outras lá”, mas nada além disso. Porém, com o perdão do Diácono, isso foi um “migué”.
Abaixo segue uma lista de todas as mudanças litúrgicas introduzidas por São Gregório Magno que pude coletar dos volumes dos autores mencionados e que colocarei como fonte no fim do texto. Assim, pois, São Gregório:
* Destituiu o uso da casula (planeta) pelos subdiáconos;
* Permitiu o canto do Aleluia fora do tempo pascal;
* Tirou o monopólio do canto do Salmo Responsorial dos diáconos;
* Instituiu o canto do Kýrie eléison;
(e o mais grave:)
* Reformulou “por completo” o Cânon, isto é, trocou de ordem as orações, modificou algumas, adicionou outras e removeu completamente outras mais, das quais:
* A Epiclese explícita do Espírito Santo foi retirada completamente do Cânon Romano.
* Moveu a posição do Pai Nosso para imediatamente após o Cânon;
* Fixou o número e forma das antífonas do Intróito, Gradual/Tracto e Comunhão.
Minha conclusão: A “Missa de Sempre” (Tridentina) pode até descender sem muitas mudanças radicais de São Gregório Magno, mas ela foi cristalizada à canetada pelo poder de um Papa, e não sem haver críticas.
FONTE:
FORTESCUE, A. The Mass: a study of the roman liturgy, 1912; DUCHESNE, L. Christian worship: its origin and evolution 1903; STALEY, V. The Library of Liturgiology & Ecclesiology for English Readers, Vol. VI, 1905.
Boa tarde, meu irmão! Salve Maria! Estou conhecendo agora este maravilhoso site e me surgiu, neste artigo, uma curiosidade: São Gregório Magno deu algum motivo para retirar por completo a epiclese explícita do Espírito Santo?