“Defender a verdadeira tradição da Igreja hoje significa defender o Concílio… Devemos permanecer fiéis ao hoje da Igreja, não ao ontem ou amanhã. E este hoje da Igreja são os documentos do Vaticano II, sem reservas que os amputem e sem arbitrariedades que os distorçam ”
Cardeal Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI)
Introdução
O Cardeal Francis George, o avô do movimento Word on Fire, costumava caracterizar o Concílio Vaticano II como um Concílio missionário. Seu propósito [do Concílio] era esclarecer a compreensão que a Igreja tinha de si mesma por meio de definições doutrinais e criar um mecanismo para renovar o vigor evangélico.
Essa grande visão permanece em grande parte irrealizada. Nas décadas que se seguiram ao Concílio, os ensinamentos do Vaticano II foram distorcidos ou simplesmente ignorados. Seus documentos robustos, produzidos pela nata da intelectualidade católica, deram lugar ao anti-intelectualismo manco. Sua definição de Eucaristia como sendo “a fonte e o ápice da vida cristã” foi recebida com uma dramática queda da frequência à missa e da crença na Presença Real; seu objetivo de despertar a consciência bíblica foi restringido por uma ignorância generalizada das Escrituras: e seu apelo à leitura dos “sinais dos tempos” foi tomado como bandeira de um catolicismo moderninho. É claro que nenhum desses efeitos foram devidos aos textos conciliares em si mesmos, uma vez que promoveram o exato oposto.
A distorção e o desprezo do Vaticano II também deram origem a uma contrarreação igualmente problemática – que menospreza ou tenta ativamente descartar esse concílio ecumênico, que contém o mais alto nível de autoridade de ensino da Igreja.
A resposta não é ou distorcer ou desprezar o Vaticano II – ambos que o vêem como uma “ruptura” com o passado, e ambos foram desastrosos para a evangelização. A resposta está em reivindicá-lo1.
Esta página de perguntas e respostas oferecida pelo Word on Fire tem como objetivo ajudar os católicos, principalmente os mais jovens, a recuperar uma visão mais verdadeira do Vaticano II. Abaixo você encontrará respostas para pontos comuns de confusão sobre o Concílio, como também citações de vários papas e outros figuras que afirmam sua importância. Nós encorajamos você a ler e compartilhar seu conteúdo, a estudar os documentos do Vaticano II por conta própria, e a juntar-se a nós na recuperação da visão missionário desse concílio para levar a luz de Cristo ao mundo.
“Não havia necessidade de reexaminar o depósito da fé, como costumam fazer os concílios, mas era preciso examiná-lo e encontrar novas maneiras da Igreja exercer sua missão com mais eficácia… O Concílio Vaticano II é, portanto, um concílio missionário. Não foi convocado diretamente para mudar a Igreja, para que ela pudesse alcançar um mundo torturado, mas sim para mudar esse mundo.”
(Cardeal Francis George, OMI)
PERGUNTAS
1) O que é o Vaticano II?
2) O Vaticano II definiu novos dogmas ou condenou heresias?
3) O Vaticano II foi apenas um concílio “pastoral”?
4) Os ensinamentos do Vaticano II são infalíveis e obrigatórios ou não-infalíveis e opcionais?
5) O Papa Paulo VI disse que o Vaticano II era ordinário, pastoral e não-infalível?
6) Os católicos são livres para ignorar, desprezar, ou rejeitar o Vaticano II?
7) Partes da doutrina do Vaticano II poderão ser retiradas ou corrigidas no futuro?
8) O Vaticano II está em continuidade com a Tradição ou é uma ruptura?
9) Os idealizadores por trás do Vaticano II deliberadamente usaram de ambiguidade para
mudar a doutrina da Igreja?
10) O Vaticano II proibiu o latim, o canto gregoriano, o órgão de tubos e a missa ad orientem?
11) Apoiar a Missa Tradicional em Latim significa que você rejeita o Vaticano II – ou vice-
versa?
12) O Vaticano II causou a erosão que estamos veno na Igreja – corrupção do clero, crescimento dos “nãos”, a queda das vocações, a falta de fé na Presença Real?
1) O que é o Vaticano II?
O Vaticano II, ou o Concílio Vaticano II, foi o vigésimo primeiro (e o mais recente) concílio da Igreja Católica. Concílios Ecumênicos, que remontam ao Concílio de Nicéia em 325, são encontros de bispos de todo o mundo, sob a liderança do Papa, para discutir e definir com autoridade a doutrina e disciplina da Igreja.
Um concílio ecumênico é evento extremamente raro, um exercício “solene” do poder episcopal (CIC 884). Ele é o principal e mais importante dos sete tipos de concílios1 possíveis na vida da Igreja Católica.
O Vaticano II foi inaugurado pelo Papa S. João XXIII em 11 de Outubro de 1962 e concluído pelo Papa S. Paulo VI em 8 de Dezembro de 1965. O Concílio resultou em dezesseis documentos promulgados pelo Papa S. Paulo VI, incluindo quatro “constituições” centrais:
Dei Verbum (Constituição Dogmática sobre a Divina Revelação)
Lumen Gentium (Constituição Dogmática sobre a Igreja)
Sacrosanctum Concilium (Constituição sobre a Sagrada Liturgia)
Gaudium et Spes (Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Moderno)
2) O Vaticano II definiu novos dogmas ou condenou heresias?
Não. Ao contrário de muitos outros concílios, o Vaticano II não definiu de maneira definitiva qualquer dogma da Igreja nem condenou qualquer heresia.
Mas ele não foi o único nesse aspecto. Na verdade, três concílios ecumênicos – o Concílio de Latrão I (1123), o Concílio de Latrão II (1139), e o Concílio de Latrão III (1179) – foram disciplinares. Esses concílios não só não definiram novos dogmas, como também não lidaram com questões doutrinais.
“A maior preocupação do Concílio Ecumênico é esta: que o sagrado depósito da doutrina cristã seja guardado e ensinado com mais eficácia. Essa doutrina abrange todo o homem, composto como ele é de corpo e alma. E, uma vez que ele é um peregrino nesta terra, ela [a doutrina] o manda tender sempre para o céu. ”
(Papa São João XXIII)
3) O Vaticano II foi apenas um concílio “pastoral”?
Não. Embora o Concílio não tenha definido novos dogmas (ver pergunta 2), e embora seus objetivos fossem amplamente pastorais, o Vaticano II também reafirmou dogmas de fé e desenvolveu doutrinas-chave. Em outras palavras, o conteúdo do Concílio – como os nomes das quatro constituições deixam claro (ver pergunta I) – não tratam apenas de questões pastorais.
4) Os ensinamentos do Vaticano II são infalíveis e obrigatórios ou não-infalíveis e opcionais?
Isso é um falso dilema. Primeiro, como dito na questão 3, o Vaticano II ensina dogmas infalíveis de fé. Essas declarações exigem o assentimento de fé da parte dos Católicos.
Mas mesmo quando não afirma algum dogma infalível, o Concílio Vaticano II apresenta ensinamentos do Magistério ordinário e universal por meio de um Concílio Ecumênico da Igreja. Isso significa que esses ensinamentos são assistidos pelo Espírito Santo (CIC 688), promulgados pelo Papa em comunhão com os “autênticos mestres da fé apostólica dotados com a autoridade de Cristo” (CIC 888), e exigem “obséquio religioso que, embora distinto do assentimento de fé, nada mais é que uma extensão dele” (CIC 892). Em suma, os ensinamentos estão salvos de erro doutrinal e são obrigatórios para todos os católicos; não são opcionais.
“[O Concílio] investiu seus ensinamentos com a autoridade do supremo magistério ordinário, magistério ordinário que é tão obviamente autêntico que deve ser aceito com docilidade e sinceridade por todos os fiéis, de acordo com o pensamento do Conselho, conforme expresso no natureza e objetivos de cada documento.”
(São Paulo VI)
5) O Papa Paulo VI disse que o Vaticano II era ordinário, pastoral e não-infalível?
Em 12 de Janeiro de 1966 o Papa Paulo VI disse numa audiência: “Dado o caráter pastoral do Concílio, este tentou evitar pronunciar, de maneira extraordinária, dogmas dotados com a nota de infalibilidade.” Esta citação geralmente é usada sugerindo-se que os ensinamentos e decretos do Concílio não vinculam os católicos.
Contudo, como esclareceu o Dr. Jeff Mirus1, tudo o que está se dizendo é o que foi descrito nas três perguntas anteriores: que o Vaticano II, embora amplamente de natureza pastoral, não definiu de uma forma extraordinária (isto é, invocando a infalibilidade) qualquer tipo de dogma novo. O Papa Paulo VI não disse que o Vaticano era apenas pastoral, sujeito ao erro, ou não obrigatório.
Ao contrário, na próxima frase ele acrescenta, “Mas ele (o Concílio) investiu seus ensinamentos com a autoridade do supremo magistério ordinário, magistério este que é tão claramente autêntico que deve ser aceito com docilidade e sinceridade por todos os fiéis, conforme a mente do Concílio, de acordo com a natureza e nos objetivos de cada documento.”
6) Os católicos são livres para ignorar, desprezar, ou rejeitar o Vaticano II?
Não. À luz das perguntas 1-5, essa não é uma opção válida para católicos. Ignorar, desprezar ou rejeitar o Vaticano II é por em dúvida a autoridade do ensinamento vivo da própria Igreja, que foi dado por Cristo (CIC 874) e realizado no Espírito Santo (CIC 78). É colocar-se numa perigosa atitude espiritual em relação à “plenitude dos meios de salvação” (CIC 824) – a Igreja una, santa, católica e apostólica – para por-se como juiz acima de seu Magistério.
O Papa São Pio X alertou contra essa atitude em 1909:
“Não vos deixem enganar pelas astutas declarações de quem afirma persistentemente desejar estar com a Igreja, amar a Igreja, lutar para que as pessoas não a abandonem… mas julga-a por suas obras. Se eles desprezam os pastores da Igreja e até mesmo o Papa, se eles tentam todos os meios de fugir de sua autoridade a fim de iludir suas diretrizes e julgamentos… então, sobre qual Igreja esses homens pretendem falar? Certamente não sobre o estabelecido sobre os fundamentos dos apóstolos e profetas, com o próprio Cristo Jesus como a pedra angular.”
“O Concílio Vaticano II foi um momento extraordinário de reflexão, diálogo e oração que teve como objetivo renovar o olhar da Igreja Católica sobre si mesma e sobre o mundo. [Envolveu] uma leitura dos sinais dos tempos em vista de uma atualização orientada por uma dupla fidelidade: a fidelidade à tradição eclesial e a fidelidade à história dos homens e mulheres de nosso tempo”
Papa Francisco
7) Partes da doutrina do Vaticano II poderão ser retiradas ou corrigidas no futuro?
Não. Foi sugerido que isso poderia acontecer com o Vaticano II à luz de dois erros de concílios que foram posteriormente corrigidos: um atribuído ao Concílio de Constança, e o outro ao Concílio de Florença.
Mas, como o historiador Cardeal Walter Brandmüller pontuou1, nenhum desses casos são análogos para reverter a doutrina do Vaticano II. No caso de Constança, os decretos em questão foram feitos por uma assembléia de cismáticos que não tinha qualquer autoridade – somente depois o encontro tornou-se um verdadeiro concílio ecumênico, de modo que nenhuma das decisões anteriores tinham autoridade ou eram vinculativas. No caso de Florença, a reversão não tinha nada a ver com doutrina – era apenas uma matéria disciplinar.
A doutrina articulada pelo Vaticano II é, sob a assistência do Espírito Santo, parte do ensino oficial e magisterial da Igreja Católica. Ela [a doutrina] pode ser aprofundada ou esclarecida no futuro, mas não pode ser anulada ou corrigida.
8) O Vaticano II está em continuidade com a Tradição ou é uma ruptura?
Esses termos são originários de um discurso proferido pelo Papa Bento XVI em 20051. Nesse discurso, ele contrastou duas “hermenêuticas”, ou maneiras de interpretar o Vaticano II. De um lado está a “hermenêutica da descontinuidade ou ruptura”, a ideia de que o Vaticano II é uma cisão ou ruptura com a Tradição católica. Do outro lado está a “hermenêutica da reforma ou da continuidade”, a ideia de que o Vaticano II está em harmonia com a Tradição católica.
Os dois que estão no extremo da “esquerda” e da “direita” interpretaram o Vaticano II como uma ruptura – uma boa ruptura e uma má ruptura, respectivamente.
Porém o Papa Bento XVI defendeu a hermenêutica da continuidade, ao dizer: “A Igreja, tanto antes quanto depois do Concílio, foi e é a mesma Igreja, una, santa, católica e apostólica, peregrina no tempo.” O Vaticano II não foi uma cisão ou ruptura; ele deve ser interpretado em continuidade com a tradição anterior. Esta posição foi defendida mais recentemente pelo Cardeal Robert Sarah. Em seu livro “The Day Is Now Far Spent”2, ele sustenta:
“A hermenêutica da reforma na continuidade que Bento XVI ensinou tão claramente é uma condição indispensável de unidade. Aqueles que fazem denúncias sensacionalistas de mudança e ruptura são falsos profetas. Eles não buscam o bem do rebanho. Eles são mercenários que foram infiltrados no redil. A nossa unidade será forjada em torno da verdade da doutrina católica. Não existem outros meios.”
“Os documentos do Concílio Vaticano II, aos quais devemos retornar… são uma bússola em nosso tempo que permite à Barca da Igreja se lançar nas profundezas em meio às tempestades ou em ondas calmas e tranquilas, navegar com segurança e chegar ao seu destino”. Papa Emérito Bento XVI
9) Os idealizadores por trás do Vaticano II deliberadamente usaram de ambiguidade para mudar a doutrina da Igreja?
O teólogo Edward Schillebeeckx foi citado como tendo dito: “Nós usamos frases ambíguas durante o Concílio e nós sabíamos como as interpretaríamos depois.” A sugestão é que conspiradores colocaram certas frases nos documentos do Vaticano II que aparentavam ser vagas e inocentes na superfície, mas que seriam posteriormente exploradas para destruir a doutrina tradicional da Igreja.
Contudo, essa citação não é encontrada nos escritos de Schillebeeckx, mas no livro intitulado “Carta Aberta aos Católicos Perplexos”, escrito anos após o Concílio pelo Arcebispo Marcel Lefebvre. Lefebvre foi um contundente crítico do Vaticano II e fundou a então cismática e ainda canonicamente irregular FSSPX. No livro, o Arcebispo Lefebvre faz a citação aparentemente de cabeça, sem mencionar qualquer fonte ou citação, e acrescenta, “Pe. Schillebeeckx admitiu… essas pessoas sabiam o que estavam fazendo.” A fonte lança sérias sobre a verdade dessa citação, que não foi corroborada em nenhum lugar, e não oferece suporte para a ideia de que aqueles que influenciaram o Vaticano II usaram deliberadamente (“armados”) a ambiguidade para distorcer o ensino da Igreja. Simplemente não há evidência dessa conspiração.
(É importante pontuar também que o Pe. Schillebeeckx não era um bispo e, por isso, não tinha voto sobre a linguagem usada no final dos textos do Vaticano II.)
Na ausência de qualquer evidência confiável em contrário, o Venerável Fulton Sheen em sua autobiografia parece muito mais confiável e razoável:
“Quem leu os Documentos do Concílio Vaticano II não tem ideia de quanto cuidado e preparação foi dado a cada palavra que continham… Posso testemunhar como discutiríamos várias palavras em latim por um dia para chegar a um significado preciso. Então, depois que um capítulo foi preparado, impresso e entregue aos Padres do Concílio, os debates sobre cada assunto duraram meses até que finalmente foram elaborados documentos que eram aceitáveis para todos, exceto alguns poucos que votaram contra eles.”
Finalmente, vale a pena acrescentar que, às vezes, inclusive nos Concílios de Trento e Nicéia, teólogos não estão em pleno acordo e, com efeito, algumas declarações um tanto ambíguas devem ser utilizadas nos documentos finais. Por exemplo, em Nicéia, o termo homoousios é aplicado ao Filho, mas não ao Espírito – e isso foi feito para aplacar uma minoria discordante de bispos. Essa ambiguidade poderia ser explorada mais tarde de maneira não-ortodoxa, mas poderia igualmente ser desenvolvida ortodoxamente sob a direção do Espírito Santo pelos concílios posteriores – o que foi exatamente o que aconteceu.
Como outro exemplo, o Concílio de Trento não solucionou várias disputas teológicas sobre a Eucaristia entre jesuítas, dominicanos e outros. A linguagem utilizada é ambígua o suficiente para permitir diversas opiniões teológicas.
O ponto chave é este: todos os concílios empregaram alguma linguagem teológica que é inevitavelmente ambígua em certos aspectos. É possível que haja teólogos presentes em um concílio – contribuintes para um documento conciliar – que desejam empregar a linguagem ambígua de maneira errada mais tarde. Mas a Igreja tem uma proteção contra isso – a saber, o Espírito Santo, que guia a Igreja na interpretação de seus concílios e na transmissão da fé. O Catecismo da Igreja Católica é um exemplo da adequada interpretação das palavras do Concílio, e há muitos outros exemplos como esse.
“O Concílio Vaticano II constituiu uma dádiva do Espírito à sua Igreja. É por este motivo que permanece como um evento fundamental não só para compreender a história da Igreja no fim do século, mas também, e, sobretudo, para verificar a presença permanente do Ressuscitado ao lado da sua Esposa no meio das vicissitudes do mundo”
São João Paulo II
10) O Vaticano II proibiu o latim, o canto gregoriano, o órgão de tubos e a missa ad orientem?
Não, a Sacrosanctum Concilium, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, não proibiu nenhuma dessas coisas.
Ao contrário, preservou o latim como a língua oficial do rito latino, e tinha isto a dizer sobre o uso do latim na Missa: “Tomem-se providências para que os fiéis possam rezar ou cantar, mesmo em latim, as partes do Ordinário da missa que lhes competem.” (n.54)
Sobre o canto gregoriano, ela diz: “A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na ação litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar.” (n.116)
E sobre o órgão de tubos: “Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de dar às cerimónias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus.”
Sobre a orientação litúrgica ela nada disse – isto é, se o padre celebrar a missa ad orientem (de frente para o altar) ou versus populum (de frente para o povo). Na verdade, muitas igrejas têm incorporado a missa ad orientem na sua forma ordinária.
Discordâncias sobre essas questões devem-se muito mais às más aplicações dos textos do Concílio Vaticano II, não dos textos em si mesmos.
11) Apoiar a Missa Tradicional em Latim significa que você rejeita o Vaticano II – ou vice-versa?
Não. Em 2007, o Papa Bento XVI emitiu um motu próprio intitulado Summorum Pontificum, autorizando uma mais ampla celebração da Missa Tradicional em Latim, ou “Forma Extraordinária da Missa”.
O mesmo Magistério que nos deu o Concílio Ecumênico Vaticano II também deu o motu proprio do Papa Bento XVI. Ser um católico que reverencia a tradição da Igreja, que é uma tradição viva, é aceitar ambos.
12) O Vaticano II causou a erosão que estamos veno na Igreja – corrupção do clero, crescimento dos “nãos”, a queda das vocações, a falta de fé na Presença Real?
Não. É importante notar, em primeiro lugar, que o Catolicismo é uma Igreja global, e sua erosão é um fenômeno largamente ocidental. Como prova o World Christian Database1, os fiéis da Igreja Católica cresceram significativamente desde o Vaticano II, com um crescimento mais estratosférico na África. (Na verdade, o único lugar onde a Igreja não cresceu desde o Vaticano II é a Europa.) Projeta-se que, em 2050, a maioria percentual dos católicos estará na África:
Por que essa erosão moral e espiritual ocorreu no nosso contexto ocidental?
Há dois pontos a serem lembrados, ambos foram pontuados pelo Venerável Fulton Sheen: primeiro, que o espírito de uma época é o que corrompeu a fé de muitos católicos; e segundo, que a turbulência é esperada na esteira de qualquer concílio.
Em 1970, William F. Buckley perguntou a Sheen se a queda na frequência à igreja e a erosão geral da fé foi causada pelo zeigeist, ou pelo ecumenismo do Concílio Vaticano II1. Sheen respondeu: “Não, eu não diria que o ecumenismo foi a causa da erosão. Certamente, o zeigeist é uma causa parcial – e em grande parte a causa.” (As estatísticas mostram uma erosão na fé entre as denominações cristãs, e portanto entre as religiões, o que prova que Sheen estava certo.) Também é importante reiterar (veja a introdução, e a pergunta 1) que o Vaticano II é distinto do “espírito do Vaticano II”. Este último foi diversas vezes invocado para distorcer o Concílio segundo o zeigeist – muitas vezes com resultados desastrosos.
Posteriormente, Buckley desafia Sheen: Se o Vaticano II foi um concílio missionário, por que essa erosão ainda está acontecendo à nossa volta? Sheen responde, com grande humildade e sabedoria: “Vai demorar muito tempo para o fermento fermentar a massa”. Na verdade, Sheen colocou em sua autobiografia “Treasure in Clay”2, que um período de turbulência é esperado na esteira de qualquer concílio ecumênico. Ele escreve:
“As tensões desenvolvidas após um Concílio não são surpresa para aqueles que conhecem a história da Igreja. É um fato histórico que sempre que há um derramamento do Espírito Santo em um Concílio Geral da Igreja, há sempre uma demonstração a mais de força do anti-Espírito ou espírito demoníaco. Mesmo no começo, imediatamente após o Pentecostes e a descida do Espírito sobre os Apóstolos, começou uma perseguição e o martírio de Estevão. Se um Concílio Geral não provoca o espírito de turbulência, alguém pode questionar a operação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade sobre a Assembleia.”
Todos nós estamos atravessando esse período de grande turbulência. Mas nossa esperança está no Espírito Santo, que opera através da Sagrada Escritura, Tradição e Magistério, para renovar a Igreja e usá-la para proclamar Cristo ao mundo moderno – mas no tempo de Deus, e à maneira de Deus, ao invés da nossa própria maneira.
“O que o Concílio fez foi estabelecer um equilíbrio ou um balanço entre esses extremos – entre evangelização e progresso humano, entre ganhar almas e salvar a sociedade, entre a salvação divina e a libertação humana. Tornou ambos inseparáveis. O Concílio decidiu que devemos gerar filhos de Deus por meio da evangelização, mas não sem dar testemunho do amor fraterno e uma sensibilidade ao desejo da humanidade por liberdade e justiça ”.
Venerável Fulton Sheen
Título original: Vatican II FAQs
Autor: Word on Fire
Publicação original: https://www.wordonfire.org/vatican-ii-faq/
REFERÊNCIAS
- A página Word on Fire nesta parte faz a indicação deste outro artigo: https://www.wordonfire.org/resources/blog/reclaiming-the-second-vatican-council/24650/
- https://www.newadvent.org/cathen/04423f.htm
- https://www.catholicculture.org/commentary/pope-paul-vi-on-vatican-ii/
- http://magister.blogautore.espresso.repubblica.it/2020/07/13/las-%e2%80%9cfake-news%e2%80%9d-de-vigano-y-asociados-desenmascaradas-por-un-cardenal/
- http://www.vatican.va/content/benedict-xvi/en/speeches/2005/december/documents/hf_ben_xvi_spe_20051222_roman-curia.html
- https://www.amazon.com/Day-Now-Far-Spent/dp/1621643247/?tag=woonfi-20
- https://worldchristiandatabase.org/
- https://www.youtube.com/watch?v=-ZwcU4EfJYM&feature=youtu.be
- https://www.amazon.com/Treasure-Clay-Autobiography-Fulton-Sheen/dp/0385177097/?tag=woonfi-20