Notas sobre a crise da Igreja à luz do discernimento de testemunhas do evento conciliar e pós-conciliar:
(a) uma crise de fé;
(b) uma crise disciplinar;
(c) uma crise do sacerdócio;
(d) e uma crise de autoridade.
(1) A crise pós-Conciliar não pode ser atribuída ao “Concílio “verdadeiro”, mas ao desencadear-se, no interior da Igreja, de forças latentes agressivas, centrífugas, talvez irresponsáveis ou simplesmente ingênuas, de um otimismo fácil.” (Cf. J. Ratzinger / V. Messori, A Fé Em Crise? o Cardeal Ratzinger se Interroga, Ed. EPU)
(2) Na atual crise de fé, a influência do subjetivismo e do relativismo com todas as suas ideologias na vida dos cristãos. (Cf. The Ratzinger Reader: Mapping a Theological Journey, T&T Clarck)
(3) Não se pode “atribuir ao Concílio intenções arbitrárias”. “Referimo-nos à assimilação da vida cristã aos costumes profanos e mundanos, à orientação chamada horizontal da religião, que não se dirige mais primariamente ao amor e culto a Deus sobre todas as coisas, mas ao amor e culto do homem, à sociologia considerada como critério principal e determinante do pensamento teológico e da ação pastoral, à promoção de uma presumida e inconcebível “república conciliar”. (Papa Paulo VI, Audiência 15 de janeiro de 1969)
(4) Paulo VI elencou as causas da crise pós-conciliar: (I) “crise de fé, desobediência, faltas à disciplina eclesiástica, secularização, audácia nas propostas de transformação das estruturas da Igreja, desejo de assimilar a vida católica à vida mundana, muito crédito dado às considerações sociológicas, mais que às teológicas e espirituais.” (Cf. Audiência geral, 23 de janeiro de 1969); (II) “crise de fé e de disciplina eclesiástica”. (Cf. Paulo VI, Resposta às felicitações do Sacro Colégio, 23 de dezembro de 1968); (III) “preponderância dada ao aspecto sociológico sobre o aspecto teológico propriamente dito: submissão da doutrina da Igreja a critérios humanos.” (Audiência geral, 10 de julho de 1968); (IV) “desrespeito à virtude da obediência eclesial”. (Cf. Audiência geral, 17 de setembro de 1969); (V) abandono do “vigor da ascese cristã”. (Cf. Audiência geral, 17 de setembro de 1969); (VI) desprezo pela “intenção fundamental do Concílio: a renovação moral e interior da vida cristã”. (Cf. Audiência geral, Audiência 15 de janeiro de 1969); (VII) submissão às “pressões da opinião pública”. (Cf. Audiência geral, 17 de setembro de 1969); (VIII) “Temporalismo, a tendência de dar o primeiro lugar aos interesses temporais.” (Cf. Audiência do dia 10 de julho de 1968)
(5) “Crise de autoridade” e “contestação da autoridade em matéria doutrinal.” (Cf. Jean Danièlou, O futuro no presente da Igreja. Edições Paulinas)
(6) Crise do sacerdócio na Igreja – “tendência de secularizar o sacerdote, que começa pela maneira de vestir-se e vai até a afirmação de que o padre deve procurar um trabalho na sociedade, como todos os outros homens, e, como todos os homens, construir uma família (confusão entre o sacerdócio ministerial e sacerdócio universal) (Cf. Jean Danièlou, O futuro no presente da Igreja. Edições Paulinas)
Tais fatores desembocam na crise da liturgia:
“Cada vez menos e menos Deus é o centro. Cada vez é mais e mais importante o que é feito pelos seres humanos que se encontram aqui e não gostam de se sujeitar a um padrão pré-determinado”.
(Joseph Ratzinger, Introdução ao Espírito da Liturgia, Ed. Paulinas)
Apenas análises superficiais responsabilizam o Concílio pela crise posterior. As raízes do descarrilamento estão aqui: (a) crise de fé; (b) crise disciplinar; (c) crise do sacerdócio e (d) crise de autoridade.
Por Daniel Fernandes
(*) Este texto foi extraído do Facebook sem a revisão do autor