(1) Nos primeiros séculos, o poder civil, na pessoa dos imperadores e dos reis, para apoiar o trabalho dos bispos e Concílios, também se acreditava autorizado a legislar e regular questões litúrgicas. Os imperadores Constantino, Teodósio, Justiniano, para citar alguns, e, sobretudo, os reis carolíngios se destacaram neste particular. […] Por isso, muitas vezes, introduziram e sancionaram costumes e abusos litúrgicos. Como quando o imperador Zenão concedeu a Unerico que os vândalos pudessem celebrar a liturgia em sua própria língua. (Cf. Mario Righetti, História da Liturgia, volume 1)
(2) Por volta do século II, o beijo litúrgico era dado na boca, como era o costume na vida civil, e sem distinção de sexo; tal prática, que descambou para a promiscuidade, ainda vigorava na África de Tertuliano, que não esconde a dificuldade de um marido pagão permitir à esposa cristã ‘alicui fratrum ad osculum convenire’. (Cf. Mario Righetti, História da Liturgia, volume 1)
(3) Em certas regiões da Europa, por volta do século XIII, a elevação da hóstia era realizada antes mesmo da consagração, levando à idolatria. (Cf. Patrícia Sela del Pozo Coll, La devoción a la hostia consagrada en la Baja Edad Media castellana)
(4) No contexto do Concílio de Trento, muitos abusos litúrgicos foram denunciados por Erasmo (v.1469-1536) em seu ‘Institutio’ de 1525. Erasmo lamentava a existência de liturgias com a presença de menestréis e dançarinos típicos de orgias.
(5) Provas iconográficas da existência de grupos mistos na liturgia da missa encontram maior apoio documental entre o final do século XV e começo do século XVI. Com frequência, cantores e instrumentistas se uniam na celebração da missa. […] Erasmo condenava o que era uma prática habitual nas igrejas e monastérios ingleses: enchem o edifício sagrado com músicas elaboradas e teatrais […]. Trompetes de todos os tipos e gaitas ressoam por toda parte e rivalizam com as vozes humanas […]. As pessoas se congregam na igreja como se estivessem num teatro. (Cf. Allan W. Atlas, La música del Renacimiento)
(6) A situação não era diferente na Itália; Biagio Rosetti se queixava em seu ‘Libellus de redimetes musices’, publicado em Verona (1519): “Há um abuso de flautas, trompetes, trombones e trompas nos lugares sagrados…as congregações lascivas se reúnem para se entreter com o som dos instrumentos”. Allan W. Atlas também comenta que os músicos usavam música obscena, impura e profana na liturgia. (Cf. Allan W. Atlas, La música del Renacimiento)
(7) O Concílio de Trento não entrou em detalhes sobre a música a ser cantada na missa. Algumas formas musicais, já praticadas em alguns lugares, proliferaram na liturgia, provocando grande anarquia. As admoestações contínuas feitas depois de Trento parecem indicar uma resistência em abandonar as formas litúrgicas e musicais anteriores. (Cf. Pedro Calahorra Martínezi. Liturgia y Musica)
(8) São Vicente de Paulo conta que no início do século XVII «não havia nada mais feio no mundo do que as diferentes formas como se celebrava», devido às fantasias pessoais que se instalavam na liturgia. (Cf. Antoine Faivre, Las religiones constituidas en Occidente y sus contracorrientes, Volume 2)
Resumo da ópera:
Adam A. J. DeVille tem toda razão:
“Estou cada vez mais convencido de que muitos problemas dentro da Igreja hoje, e entre os cristãos, são de natureza historiográfica. É falta de conhecimento histórico.”