A Lumen Gentium adotou a ideia da Igreja como Sacramento primordial, como diz o livro de Barauna?
O leitor da obra editada por Barauna deve estar convencido disso. Mas, trabalhando agora em uma monografia sobre a Igreja como sacramento, pude perceber, seguindo a gênese dos textos e consultando os arquivos, que o Vaticano II se recusou, de fato, a aceitar a idéia da Igreja como sacramento primordial (Ursakrament), desenvolvida por Semmelroth, Rahner, Jungmann e muitos outros. No entanto, essa declaração, contestada formalmente pelo Vaticano II, é atribuída a ele por Ch. Moeller, sem muita cautela e por P. Smulders, sem qualquer cuidado. A afirmação inicial da Lumen Gentium, então retomada no mesmo sentido por outros documentos, não se insere na teologia sacramental, mas é uma afirmação escatológica e missionária, que pretende destacar a correlação entre a unidade da Igreja e a unidade do gênero humano. Qualquer pessoa familiarizada com os debates ecumênicos entre a Igreja Católica e as Igrejas reformadas poderá avaliar a energia que poderia ter sido economizada, se tivesse sido claramente estabelecido que o ensino em questão era apenas uma livre opinião católica, que alguns teólogos, sem critério histórico quiseram apresentar como ensinamento conciliar.