Muitos documentos conciliares e pós-conciliares foram mal lidos e também não lidos. Daí certa má vontade claramente presente diante de temas e textos teológicos hodiernos, que, ao estimularem o diálogo inter-religioso, por exemplo, insistem em dizer que a Igreja nivelou Jesus Cristo aos outros fundadores religiosos ou passou a defender uma real autonomia salvífica por parte das outras religiões. Nada mais falso.
- O Papa S. Paulo VI, por meio da Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, diz que “mesmo perante as expressões religiosas naturais mais merecedoras de estima, a Igreja apoia-se sobre o fato que a religião de Jesus, que ela anuncia através da evangelização, põe o homem objetivamente em relação com o plano de Deus, com a sua presença viva e com a sua ação; ela leva-o, assim, a encontrar o mistério da paternidade divina que se debruça sobre a humanidade; por outras palavras, a nossa religião instaura efetivamente uma relação autêntica e viva com Deus, que as outras religiões não conseguem estabelecer”.
- Um outro documento esclarecedor é Diálogo e anúncio, cuja temática é o como levar avante o diálogo inter-religioso e o anúncio da pessoa de Jesus. O texto diz expressamente que “é necessário um discernimento”. Pois se podemos “discernir facilmente os frutos do Espírito Santo na vida pessoal dos indivíduos, cristãos e não-cristãos (cf. Gl 5,22-23), é muito mais difícil identificar, nas outras tradições religiosas, elementos da graça capazes de sustentar a resposta afirmativa dos seus membros à chamada de Deus”. Diz ainda o texto: “Muitas pessoas sinceras, inspiradas pelo Espírito de Deus, assinalaram certamente com a sua marca a elaboração e o desenvolvimento das suas respectivas tradições religiosas. Mas isto não implica necessariamente que tudo nelas seja bom. Afirmar que as outras tradições religiosas contêm elementos da graça não significa, por outro lado, que tudo, nelas, seja fruto da graça. O pecado atua no mundo e portanto as tradições religiosas, apesar dos seus valores positivos, refletem também os limites do espírito humano, que por vezes está inclinado a escolher o mal. Uma aproximação aberta e positiva às outras tradições religiosas não autoriza, portanto, a fechar os olhos perante as contradições que possam existir entre elas e a revelação cristã. Onde for necessário, é preciso reconhecer que existe incompatibilidade entre certos elementos essenciais da religião cristã e alguns aspectos destas tradições. […] Isto significa, portanto que, embora entrando com um espírito aberto no diálogo com os membros das outras tradições religiosas, os cristãos podem também questioná-los, num espírito pacífico, sobre o conteúdo de seus credos.”
- Na Carta Encíclica Redemptoris Missio, S. João Paulo II fez questão de destacar a existência de “lacunas, insuficiências e erros” nas demais tradições religiosas.
- A Declaração “Dominus Iesus” foi ainda mais clara: se, por uma lado, “algumas orações e ritos das outras religiões podem assumir um papel de preparação ao Evangelho, enquanto ocasiões ou pedagogias que estimulam os corações dos homens a se abrirem à ação de Deus, não se lhes pode porém atribuir a origem divina nem a eficácia salvífica ex opere operato, própria dos sacramentos cristãos”. Também “não se pode ignorar que certos ritos, enquanto dependentes da superstição ou de outros erros (cf. 1 Cor 10,20-21), são mais propriamente um obstáculo à salvação.” […] Só Cristo é o mediador e caminho da salvação; e ele torna-se presente no seu Corpo, que é a Igreja. […] a plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica.”
Por Daniel Fernandes
(*) Este texto foi extraído do Facebook sem a revisão do autor